30 de março de 2018

Sofrimento - Diversidade e Objetivos

Ézio Pereira da Silva

SEGUNDA PARTE - Hebreus 2.10

Continuação do artigo O Mistério do Sofrimento

Muitos se tornaram heróis e entraram para a história porque sofreram. Não tanto pelo que realizaram mas, por causa do sofrimento a que se submeteram para fazer o que fizeram.

Quando o verdadeiro cristão encerra suas atividades neste mundo, acabam-se os seus argumentos pessoais contra a vontade de Deus em sua vida e, consequentemente, termina o seu sofrimento. Daí em diante é somente alegria plena, inaudita e eterna.

Benefícios do sofrimento
Um dos maiores trunfos ou propósitos do sofrimento, e que justificam a sua necessidade, é que quanto maior, mais abrangente e mais intenso for (ou mais de um desses fatores combinados), mais detestável, odiado e temido ele se torna.

A contrapartida é que o alívio, a libertação ou o se ver livre desse sofrimento se torne algo intensamente desejável. Isto é, a ausência do sofrimento pela ação do bem, da paz, da harmonia, da quietude, do perdão, da tranquilidade, da liberdade e do amor. Enfim, as coisas boas da vida, se tornam desejáveis com mais avidez.

Um dos objetivos do sofrimento é levar alguém a odiar tudo aquilo que é ruim e o produz, de forma que passe a detestar o mal, a desejar ardentemente o bem, reconhecendo que Deus é o Senhor sobre tudo e, dessa forma, nunca mais propor fazer nem aceitar praticar aquilo que é ruim, porque resulta em sofrimento.

Uma comparação: para que serve uma prova, um teste?

Serve para comprovar o real valor de quem é testado.
Quem é beneficiado por um teste? Um teste beneficia a quem a ele se submete. Concurso, prova, competição, vestibular, etc., são testes. Quem se submete a eles sofre. Vai revelar quem ou o que alguém é ou de que é capaz.

O teste não possui benefício para quem não tem real valor. Para quem é reprovado, a avaliação vai apenas demonstrar sua incapacidade e desvalor.

Para esses, o teste é prejudicial mas, para quem possui valor, é benéfico.
O valor de alguém só é reconhecido depois de ser revelado por um teste. O teste beneficia quem tem valor. O que é, na verdade, um teste? Sob vários aspectos, teste é um sofrimento!

Alguém que não sofre não tem capacidade de desejar o bem, porque o desconhece. O que é essencialmente bom será conhecido por alguém, proporcionalmente ao conhecimento que este alguém possua daquilo que é, essencialmente, ruim.

Quem não sofreu, ou não está sofrendo, não tem nem mesmo capacidade ou parâmetro para discernir o que é bom ou ruim. Isso, porque não possui experiência para fazer comparações ou distinguir coisas diferentes entre si.

Foi o que aconteceu no Jardim do Éden. O ser humano só percebeu o estado de prazer em que vivia quando caiu em pecado. Só se deu conta do que era bom (o bem) quando provou o que era ruim (o mal). Houve o envolvimento com o elemento de comparação.

Quem conhece só o bem, não percebe que o bem é bom. Só terá condição de saber, pela prova ou experimento do mal. Da mesma forma, quem conhece só o mal, não sabe que o mal é ruim. Não possui o parâmetro comparativo.

Quem conhece apenas o bem, não sabe o que ele significa em sua plenitude. Não percebe a essência do bem. Só pode saber, através do conhecimento do mal, por experiência. 

É necessário que o ser humano seja exposto aos dois (o bem e o mal) e, aí, poder escolher entre ambos o que seguir, o bem ou o mal. Quem determina isso não é o ser humano mas, o próprio Deus.

Não foi, por acaso, essa realidade que o Criador quis revelar? A  Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal porventura, não teria sido o instrumento que Deus usou para fazer o ser humano conhecer tanto o bem como o mal?

Não foi a oportunidade de o ser humano, pelo seu livre-arbítrio, escolher livremente o que queria seguir: o bem ou o mal? Pela ingestão do fruto da Árvore, o ser humano teve a oportunidade de provar, ou conhecer, o bem e o mal.

Não quis Deus, porventura, que se manifestasse a essência do caráter de cada um deles e, assim, dar o destino eterno a ambos, conforme o caráter ou a essência de cada um e, dessa forma, destruir a raiz do mal, na essência, e exaltar o bem?

Para isso, não seria necessário que o mal se manifestasse no ser humano, revelando-se, então, a necessidade do pecado entrar no mundo?

Não há vitória sem guerra, sem competição. A guerra (ou adversidade) é elemento compositivo da vitória como, por exemplo, o hidrogênio e o oxigênio, que compõem a molécula da água.

Como já mencionado, a dor é necessária para diagnosticar uma doença silenciosa, sutil e mortal, a fim de preservar da morte alguém que a contraiu.

A enfermidade se torna manifesta pela dor, a fim de ser debelada, destruída.
Com o mal terá sido a mesma coisa? Isto é, Deus fazer com que o mal, em sua essência, se manifestasse na natureza, através de Lúcifer e do ser humano, para que fosse para sempre exterminado?

É absolutamente normal que Deus, às vezes, faça alguém passar por uma situação complicada. Sem dúvida nenhuma, seu objetivo é, de alguma maneira, edificar a sua vida.

Da mesma forma, é normal a repetição de algo desagradável na vida de alguém quantas vezes forem necessárias, dependendo se a lição que a motivou tenha sido aprendida. Caso negativo, provavelmente a situação poderá persistir ou se repetir.

Nesse ponto, surge um questionamento: quanto tempo isso pode demorar?

Naturalmente, pode durar muito tempo, dependendo da absorção, ou pouco, se a lição for assimilada em um curto espaço de tempo. Ou seja: lição aprendida, etapa vencida; lição não absorvida, repetição da etapa. Até que a lição tenha sido compreendida.

Por que algumas vezes Deus não alivia o sofrimento de seus filhos? Até mesmo de dor física? Como Ele nada faz sem razão ou propósito, nem injusto ou mau, podemos estar certos de que o efeito final será benéfico. Com certeza, há pelo menos um propósito para isso! Do contrário, Ele não permitiria.

Objetivos do Sofrimento
Na amplitude do sofrimento, alguns propósitos podem ser destacados:
- intensificar no ser humano o desejo de estar na presença de Deus na eternidade e, em razão disso, se ver livre de tudo aquilo que o sofrimento traz de indesejável;
- desejar extremamente, com muita avidez, algo da parte de Deus e a ausência daquilo que causa ou produz sofrimento;
- provocar aversão às trevas e amar a luz;
- verificar experimentalmente a diferença entre a justiça e a iniquidade;
- mostrar a diferença entre o bem e o mal, entre a morte e a vida e entre o senhorio de Jesus e o cativeiro de Satanás;
- demonstrar que a paz é preferível ao tormento e a dor deve dar lugar ao santo prazer;
- criar uma aversão ao sofrimento e tormentos fortes, cruéis, intensos e dolorosos que ele traz, de tal forma que, em qualquer tempo no futuro, seja produzido um pavor tão enorme que até o mínimo pensamento ou ideia dele provoque no ser humano um exacerbado e supremo esforço, para que não seja mais atingido;
- fazer com que o sofrimento se mostre tão detestável que, a mínima ideia de ser tocado por ele, provoque um pavor intenso e um desejo de vê-lo afastado o mais possível e nunca mais haja memória dele para sempre;
- revelar com clareza o caráter cruel de Satanás. O que só pode ser conhecido de forma experimental e não meramente teórica;
- mostrar que Satanás é extremamente perverso, de tal forma que o ser humano não lhe dê mais chances de lhe infligir sofrimentos;
- fazer ver a diferença entre o caráter e a bondade de Deus e a perversidade de Satanás;
- dar ao ser humano a oportunidade de usar conscientemente o livre-arbítrio para escolher a quem deseja se sujeitar: à liberdade oferecida por Jesus ou ao cativeiro imposto pelo diabo;
- treinar e habilitar o cristão a servir outros;
- oferecer ao ser humano a oportunidade de escolher entre a vida e a morte.

Deve ser entendido que, quanto mais forte, intenso e extenso for o sofrimento, mais o mal será detestado e aborrecido. Além de não querer mais pecar, o cristão vai almejar, com maior intensidade, a glória da santificação.

Essa promessa de Deus continua atual e viva: “Olhos humanos não viram... o que Deus tem preparado para os seus.” - 1 Co 2.9.

A felicidade e a alegria em Deus serão mais valorizadas e desejadas, com intensidade inversamente proporcional ao sofrimento, porém, com abrangência, qualidade e quantidade infinitamente maiores.

Da parte de Deus, o que ele tem para nós é extremamente maior que o nosso desejo, por mais intenso que este seja.
“... Os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada” - Rm 8.18.

Por causa daquilo que Deus fez no nosso interior, o que é exterior e desagradável desta vida, produz repulsa, aversão, ódio e sofrimento.

O que tem em nosso interior é inverso ao que temos no sistema perverso e maligno da vida exterior, onde reina o mal, com todos os sentimentos terríveis que produzem.

Quanto maior, mais intenso e duradouro for o sofrimento, maior e mais intenso será o desejo de aborrecer o que lhe causou, sair dele e ganhar alívio e felicidade, no mínimo, equiparados e inversamente proporcionais a ele.

A retirada do sofrimento já provoca uma enorme sensação de felicidade, alegria e bem-estar, quanto maior tiver sido a intensidade do sofrimento. Só que, da parte de Deus, há muito mais que isso. Não apenas a libertação, o alívio do sofrimento mas, algo infinitamente maior.

Sabe aquela coisa quando uma dor desaparece do nosso corpo? A sensação de prazer e o efeito que a retirada provoca? Pois é a mesma coisa! Quanto maior o sofrimento, maior será a alegria quando ele cessa.

É muito difícil para o ser humano tornar-se humilde e quebrantado. Com isso, a fim de ser tratado em seu orgulho, vaidade, soberba, pecados ocultos, presunção e cegueira espiritual, sofrimentos específicos lhe são impostos, com a finalidade de libertá-lo desse jugo.

Por isso, sempre tem de passar por quebrantamento e arrependimento, os quais sempre produzem algum tipo de sofrimento, nesse caso, salutar. Eu mesmo! Neste exato momento em que escrevo este texto, estou passando por esse processo.

Exemplo e lições de Jesus no sofrimento
Os benefícios dos sofrimentos de Jesus. Eles existem? Quais foram? Há algum dimensionamento exato? E se Ele não tivesse sofrido? Existe avaliação suficiente?

Jesus Cristo, exatamente e exclusivamente por ser o verdadeiro Deus, foi o destinatário do ápice de todo o sofrimento universal e de toda a história, em seu mais alto grau e abrangência, com todos os horrores da condenação eterna, que deveria cair sobre toda a raça humana, por todos os pecados cometidos. Tudo desabou sobre ele.

Como alvo e sujeito principal do sofrimento e de todas as suas implicações, Jesus Cristo é a figura central para quem foi convergido todo o tipo de sofrimento - físico, mental, espiritual e emocional, na sua maior intensidade, dor, crueldade e abrangência jamais suportadas, em toda a história da humanidade.

Já imaginaram a criatura supliciando, sendo verdugo de seu Criador? Sofreu o desprezo, afrontas e ataques inimagináveis de sua própria criatura, a quem havia criado com a infinita expressão de seu amor. Alguém consegue imaginar as dimensões, influências e profundidade dos sofrimentos de Jesus?

A imaginação, se houver, precisa ter, necessariamente, como ponto de partida, a imprescindível observação: Jesus Cristo é, essencialmente, o Deus Todo Poderoso e o Criador de todas as coisas.

Deve finalizar, pelo menos momentaneamente, com os resultados expressos na palavra profética em Isaías 52.13-53.12 e de forma mais ampla em toda a Bíblia, ainda que ciente de não poder imaginar os limites de seus efeitos.

Além disso, necessário é contemplar as dimensões (largura, altura, comprimento e profundidade), extensão (efeitos transformadores nas esferas espiritual, física e material), abrangência (seres espirituais, seres humanos mortos e vivos e animais) e duração (da eternidade passada até a eternidade futura) dos seus sofrimentos.

É humanamente impossível discorrer a respeito de tudo o que se relaciona, positiva e negativamente, com os sofrimentos de Jesus. Todas as consequências terríveis do pecado e da maldade de toda a raça humana caíram sobre ele, em todos os níveis, quer espirituais, físicas, psicológicas, emocionais, sociais, etc.

Quem foram os beneficiários dos sofrimentos de Jesus?
Todos os seres humanos, animais, a natureza e a criação. Ele atendeu todos os pré-requisitos e pagou o altíssimo preço exigido para a propiciação, restauração, resgate e redenção de tudo. Por isso, pode conceder perdão e a salvação eterna a todos os que crerem.

Assim como os sofrimentos de Jesus trouxeram resultados amplos e eternos para muitos, assim também os sofrimentos dos cristãos trazem benefícios para si próprios e para muitos que, se crerem também, se beneficiarão, principalmente obtendo o perdão de Deus e recebendo a vida eterna.

Se Jesus não tivesse morrido, tudo estaria irremediavelmente perdido. A humanidade, a criação, a natureza..., tudo! Literalmente, tudo!

Algumas referências úteis sobre o sofrimento: Sl 91; Tiago 1.2-3; 1 Pe 4.12-16; 5.8-10.

Sofrer é ruim! Sofrer muito é muito ruim! Sofrer sozinho é terrível! Sofrer a condenação eterna é indescritível e inimaginável!

Jesus Cristo padeceu todos os horrores dos sofrimentos e, por isso mesmo, Ele pode livrar da condenação e do sofrimento eterno todo aquele que, através dele, se aproxima de Deus.

Atente nessa verdade: a raiz e causa principal do sofrimento humano é o seu desconhecimento de Deus.

Finalmente, um conselho útil que, se atendido, certamente pode fazer bem!

Alguém qualificado e idôneo, que possa oferecer ajuda fundamentada nos princípios da Palavra de Deus, com resultados eternos permanentes, deve ser procurado.

Pense nisso!!!

29 de março de 2018

O Mistério do Sofrimento

Ézio Pereira da Silva

PRIMEIRA PARTE - 2 Co 1.3-7

Quem pode compreender, de verdade, o sofrimento?

Quem é sábio o suficiente para conhecer o que é o sofrimento? Quem pode avaliar o seu real significado, sua importância, valor, tipos, razões, dimensões, propósitos, necessidades, níveis de intensidade, abrangência e resultados?


O sofrimento na dimensão humana.

Sofrimentos necessários para treinamento e preparo de quem precisa ter experiência e vai usar esses mesmos sofrimentos para ajudar e cuidar de outros.

Sofrimentos, no caso dos cristãos, por causa do testemunho que compartilham.

Sofrimento por incompreensão, por incapacidade de realizar alguma coisa, pela perda de esperança, por frustrações, por vergonha, até sofrimento sem causa aparente, além do sofrimento causado pelo sofrimento de alguém.

Neste particular, vale lembrar da solidariedade da raça humana, na qual, cada ser humano tem parte, de alguma forma e em determinada intensidade, com o bem ou mal, que ocorre com o seu semelhante.

Sofrimento por causas naturais.

Sofrimentos decorrentes de causas naturais, ou sociais, tais como enchentes, epidemias, revoluções, guerras, conflitos diversos, etc. São os mais variados. Isso, porém, tem uma origem: A Queda de Lúcifer e do Ser Humano.

Segundo as Escrituras Sagradas, quem provocou e trouxe o sofrimento ao ser humano foi ele mesmo! Então, sendo assim, em princípio, ele não tem de que reclamar.

Sofrimento com a geração da família (Gn 3.16); sofrimento com trabalho (Gn 3.17-19, 23); sofrimento com a preparação da terra, etc. Não era para ser assim.

A promessa era para todos viverem no jardim, sem sofrimento. Mas, expulsos, o esforço para se manterem vivos constituiu-se em sofrimento. O próprio trabalho, como referido acima, é um sofrimento. Consequência da rebelião do ser humano contra Deus.

Foi mais intensificado ainda pelo enfraquecimento da força do solo, da terra (Gn 4.12), por causa da maldição que caiu sobre o planeta (Gn 3.17), em decorrência do pecado do homem que a contaminou.

Em função dessa nova realidade de vida, houve, também, uma intensificação do sofrimento. Vide a sentença sobre Eva em Gênesis 3.16.

Neste ponto, é necessário dizer que o pecado é anterior a Adão. Isto é, antes da criação do ser humano na face da terra.

Observe que a criatura humana pecou antes da queda, quando estava ainda no seu estado natural da inocência. Não foi a queda que levou o homem a pecar; mas o pecado levou o ser humano a cair. O pecado ocasionou a queda e não a queda ocasionou o pecado. Lembre-se de que Lúcifer pecou antes do homem.

O problema, então, já existia antes. Isso nos leva a pensar e a entender que Deus precisava tratar com a natureza original do ser humano. Exatamente, a que ele possuía antes da queda.

Alguma coisa precisava ser feita. Algo que já estava na presciência de Deus. Um plano perfeito, cujo tema eu tratei no artigo "A Intrigante e Necessária Queda de Lúcifer e do Ser Humano". Leia neste site.

O sofrimento na natureza animal.

O sofrimento intenso da ostra para preservar a si própria de um ataque produz um pérola de alto valor. Assim é o sofrimento. É salutar para preservar a vida física e dar condições para tomar posse da vida eterna.

O sofrimento é necessário para produzir pérolas. Como no exemplo das ostras, pérolas são produtos de dor, de sofrimento. São feridas curadas, como alguém já disse.

Tipos e áreas de sofrimento.

Além dos já mencionados, há uma variedade enorme de situações, áreas e tipos de sofrimento, com as quais convivemos.

A dor

O sofrimento é necessário, assim como a dor é necessária para diagnosticar uma enfermidade silenciosa, sutil e mortal, e preservar da morte alguém que a contraiu. Várias doenças se tornam manifestas pela dor, a fim de serem debeladas, destruídas.

A fome

A fome é outro sofrimento necessário. Ninguém sobrevive sem fome, pois, sem ela, não há como se alimentar naturalmente. Sem a fome, o organismo rejeita o alimento. Sem fome a pessoa morre (de fome). Não estou considerando certas alternativas da medicina como a alimentação enteral, via sonda. Refiro-me estritamente ao processo natural.

Existem diversos tipos de sofrimento, bem como, inúmeras causas.

A primeira e maior de todas é a falta do conhecimento de Deus. Este é o motivo, a raiz principal e a origem de tudo.

Eis alguns outros:
- abandono de filhos a pais e de pais a filhos;
- desprezo entre irmãos e demais familiares;
- pela perda de um ente querido;
- pela despedida do emprego, principalmente em tempos de escassez;
- carência de alimentos para sobrevivência;
- por acometimento de enfermidades;
- por injúria, difamação, perseguição;
- pela falta de moradia;
- por desavença entre casais, incompreensões, falta de diálogo;
- frustrações diversas e ansiedade;
- perdas materiais e financeiras;
- preconceito social, racial, religioso ou cor da pele;
- por ser mulher; por ser homem;
- desprezo de amigos;
- solidão imposta;
- saudades;
- por preocupações diversas;
- pelo sofrimento dos outros, notadamente quando nada pode ser feito;
- injustiças diversas;
- ... a lista é enorme; tende ao infinito.

Vontade de Deus x Vontade Humana

Invariavelmente, a vontade de Deus com relação ao ser humano está intimamente associada à morte ou resignação deste. Com efeito, para que a vontade de Deus seja realizada, é necessário que intervenha a morte do ser humano, ou seja, a renúncia de sua vontade própria, visto que esta é contrária e incompatível com a vontade de Deus.

Nesse contexto, a morte (escolha da vontade de Deus) sempre esteve e estará negativamente relacionada com a vontade própria do ser humano. Vide a história de Adão e Eva.

Isso porque, o ser humano não consegue, naturalmente, fazer a vontade de Deus sem renunciar à sua própria. Por quê? Porque a vontade do ser humano está associada à natureza caída, herdada de Satanás e esta é oposta à natureza de Deus.

Mesmo se considerarmos a vontade natural, intrínseca do ser humano, antes da queda, ainda assim, há resistência à obediência a Deus.

A vontade de Deus não é recebida comodamente pelo ser humano, nem mesmo sem questionamentos e resistência.

Daí, a necessidade da interveniência da morte. Para o homem fazer a vontade de Deus, só mesmo morrendo. Ou seja, renunciando à sua própria vontade, pela ação direta da cruz em sua vida.

Logicamente, Deus só podia tratar com o ser humano depois de criá-lo. Impossível antes! Deus precisava deixar o homem tomar a sua própria decisão. Por isso, Ele o criou com o livre-arbítrio. O ser humano possui decisão pessoal.

Origens do Sofrimento.

Em princípio, por desconhecer a Deus, o sofrimento do ser humano tem como origem, raiz ou causa primeira, o seu desejo de fazer o que bem entende, tendo como resultado imediato a sua rebelião contra Deus.

A raça humana possui obsessão por obedecer à sua vontade própria. Quando lhe é oferecida a oportunidade de escolher a vontade de Deus, ele não se dispõe a abrir mão da sua vontade própria.

Assim, vem seu sofrimento. Isto é, a decisão de substituir a sua vontade pela vontade de Deus. É a escolha de fazer a vontade de Deus em detrimento de sua própria. E isso, para o ser humano natural, é sofrimento.

Naturalmente o homem não aceita isso! Lembre-se de que Eva, antes de ceder à tentação, portanto fato anterior à queda, ela já possuía a tendência de resistir a obedecer a vontade de Deus. Só faltava o incentivo. A tentação, efetivamente, foi a gota d’água.

Por isso, a necessidade do advento da morte (o ato de rejeição da vontade própria), a qual traz consigo o sofrimento, a "dor de cotovelo" (expressão de tristeza por ter de abrir mão da vontade própria), a discordância, a insatisfação, o descontentamento proveniente da renúncia à vontade pessoal.

Com isso, para conseguir ser reabilitado à presença de Deus, ele deveria renunciar à sua vontade própria (morte) para fazer a vontade de Deus.

Assim é que se opera a morte no homem. Esse é o significado da cruz: morte! Ou dizendo de outra forma: trocar a vontade própria pela vontade de Deus. Negação de si mesmo. Isso é renúncia! Isso é morte!

Algo, entretanto, pode permanecer em questão: todo sofrimento tem origem, ou é resultado da desobediência a Deus? A resposta é: Sim! Em linhas gerais, sim!

Porém, observe! Pode haver exceção.

Há o que poderíamos chamar de sofrimento secundário. Ou seja, o sofrimento derivado de outro sofrimento. Ou aquele sofrimento que não é resultado direto da desobediência.

Por isso, a cruz se faz necessária. É imprescindível morrer!

Dessa forma é que vem o sofrimento. O sofrimento, então, é resultado dessa luta interior contínua do ser humano que deseja fazer a vontade de Deus. Essa batalha intensa do espírito do homem recriado contra a natureza carnal: a teimosia em fazer a vontade própria. Aí é onde entra a ação da cruz.

Neste caso, o sofrimento não é provocado pela vontade de Deus em si mesma. Ele é provocado pela rejeição natural do ser humano em obedecê-la. O sofrimento não deriva da execução da vontade de Deus, mas do sentimento do ser humano oposto à vontade divina, que é fazer a sua própria vontade.

Mas, alguém pode argumentar: "Quem obedece também sofre!". Sim, é verdade! Porém, existem duas observações a serem consideradas:

Primeira, o sofrimento não é o imediato, mas o sofrimento que é resultado da permanência em uma condição anteriormente estabelecida, contrária à vontade de Deus, condição essa que exige a necessidade de mudança atual. Ou seja: o sofrimento interior provocado pela necessidade de mudança.

A pessoa sofre porque sabe que precisa mudar. A sua própria disposição/propósito em mudar é combatida pela sua vontade latente de permanecer sem mudança, sem nenhuma alteração. A resistência à mudança. O desejo de continuar como está.

Segunda, o sofrimento provocado por condições exteriores, não da própria pessoa, exatamente pela concretização de ações decorrentes da obediência. Isto é, o sofrimento de origem externa, infligido por alguém ou por condições adversas, desencadeadas exatamente, por causa da obediência a Deus.

O sofrimento de Jesus é o exemplo por excelência. De fato, Ele sofreu, porque obedeceu. Todo o sofrimento de Jesus teve como causa a obediência ao Pai.

Como a vontade de Deus sempre é benéfica, perfeita e amorosa, e a do ser humano, na condição de caído, é sempre má, conforme registrado no capítulo 6 de Gênesis, haverá, sempre, o sofrimento decorrente desse conflito.

Quando alguém resiste ao que Deus fala, Ele o deixa andar segundo seus próprios caminhos. O sofrimento deste vai ser insuportável, a ponto de clamar ao Senhor, novamente. Vide os Salmos históricos 81, 106 e 107.

O que nos causa mais sofrimento? É exatamente a resistência que temos em nos submeter à vontade de Deus.

Como aliviar o sofrimento? Vivendo em um estado contínuo de morto, de resignado, de crucificado. Paulo disse: "Estou (tem a conotação de continuidade) crucificado com Cristo".

É impossível querer fazer ou deixar de fazer as coisas por própria força e vontade. A chave é descansar em Deus, sem fugir da responsabilidade individual, e confiar nele. Aí o sofrimento será infinitamente menor, por não haver resistência em realizar a vontade de Deus.

O que devemos fazer diante dessa realidade?

Atitudes a serem tomadas:
1) Reconhecer nossos erros, assumindo nossa responsabilidade;
2) Reconhecer nossa total dependência de Deus, sem deixar de fazer a nossa parte - "esforça-te..." Josué 1;
3) Tomarmos atitudes e ações concretas, que demonstrem nosso arrependimento e desejo de mudança;
4) Caminhar com persistência e perseverança no compromisso assumido com Deus e conosco mesmo;
5) Esperar com confiança e pacientemente no cumprimento de suas promessas para nós;
6) Não nos esquecermos que vidas podem ser beneficiadas com nosso sofrimento, segundo a vontade de Deus;
7) Entender que o sofrimento não é o fim mas o instrumento, o caminho, o meio que Deus usa para nos proporcionar a felicidade eterna.

Observem essas proposições:
1) Não pratiquemos ações que nos levem ao sofrimento desnecessário;
2) Tenhamos o consolo pela lembrança de que outros também sofrem - 1 Pe 5.8-10;
3) Regozijar-se ao passar pelo sofrimento em vista do consolo futuro - I Pe 4.12-14;
4) Considerarem-se felizes ao serem perseguidos - Jesus - Mt 6.11;
5) Alegrai-vos no Senhor - Fp 4.4;
6) Reinar já, apesar dos sofrimentos - Rm 5.17;
7) Possuir alegria contínua em todo tempo - Salmo 118.24;
8) Revestir-se de louvor em vez de espírito angustiado - Isaías 61.

Continua - Aguarde a SEGUNDA PARTE