30 de julho de 2017

O Plano Eterno de Deus

Ézio Pereira da Silva

"... ele faz coisas grandes e inescrutáveis e maravilhas que não se podem contar;" - Jó 5.8.
"O SENHOR fez todas as coisas para determinados fins e até o perverso, para o dia da calamidade." - Pv 16.4.
"Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos!" - Rm 11.33.


Algumas verdades bíblicas há que, se consideradas, de fato, como pontos-chave, poderão facilitar o entendimento, esclarecer questionamentos que povoam as mentes de muitos, e proporcionar respostas a várias indagações que temos nesta vida rumo à eternidade.

 
Observando esses princípios, várias dificuldades encontradas na Bíblia que não precisam existir, deverão ser suprimidas e dúvidas contornadas, podendo ser desvendados vários textos das Sagradas Escrituras ainda reputados como obscuros e de difícil compreensão.

Essas verdades devem ser acolhidas tendo como fonte o Deus Todo-Poderoso, o Ser supremo e Criador do universo, e eliminando, a todo custo, toda e qualquer tentativa de diminuir Deus em seu caráter, amor, soberania, atributos, bondade, integridade, justiça, fidelidade, poder, santidade e perfeição.

A propósito, dois dos atributos de Deus mais questionados são a Bondade e a Justiça. Seguidos, talvez, pelos da Onipotência e Onisciência. Quase toda adversidade que ocorre com algumas pessoas, Deus logo já é questionado: "Deus é injusto!" ou "Deus não é bom!"

Além disso, várias expressões demonstram com real clareza a concepção que outros possuem de Deus: "Será que Deus pode?" "Deus não sabia que ia acontecer!" "Deus foi pego de surpresa!" "Deus não esperava isso!" "Deus teve seus planos frustrados!". Esquecem, ignoram ou desconhecem Jó 42.2.

Em toda e qualquer situação, atente nessa sentença máxima: não diminua Deus em nenhum de seus atributos. Por quê? Porque isso conduz a todo tipo de erros e às mais diversas e danosas heresias.

Ou seja, reconheça Deus exatamente como a Bíblia o descreve.

Tenho percebido que, com exceção do emblemático problema da origem do mal, um mistério nebuloso que há séculos continua sem solução, muitos outros só permanecem sendo um enigma porque alguns elementos, fundamentais para uma sadia interpretação das Escrituras, são desconhecidos ou ignorados.

Sem presunção, com humildade, simplicidade, e com base no conjunto de todo o conteúdo bíblico sem, contudo, me fixar em um texto especifico, ofereço logo à frente uma sugestão do que eu imagino ser um possível entendimento para o problema do mal moral.

Não deve ser ignorado que a maior parte dos problemas do ser humano, ou mesmo a totalidade deles, tem como raiz o fato de ele possuir uma imagem distorcida e um conceito inadequado de Deus e não o aceitar como, na realidade, ele é.

Por essa razão, é indispensável que se tenha conhecimento de quatro fatores basilares determinados por Deus, os quais, se observados em conjunto, poderão se transformar em elementos elucidativos de muitos questionamentos.

Três desses fatores são abordados a seguir. O último, que versa sobre Jesus Cristo, em razão da sua singular e superior importância, terá um tratamento especial em outro artigo.

Cada um desses elementos desempenha um papel, uma função essencial nos propósitos eternos de Deus. São eles:
- O Plano Eterno de Deus;
- Lúcifer - O Agente Executivo da Essência do Mal;
- O Ser Humano - O Duplo Agente de Deus; e,
- Jesus Cristo - O Soberano Absoluto. O Supremo representante da raça humana.

Entendido isso, vamos pensar um pouco nesses elementos.


1) O Plano Eterno de Deus

Existe uma diversidade de planos secundários de Deus atendendo inumeráveis finalidades. Entretanto, o objeto da presente abordagem se limita quase exclusivamente ao seu Plano Eterno Principal, no qual estão contidos todos os demais. Além dos individuais que ele tem para cada ser humano

Para se referir ao Plano Eterno de Deus e proporcionando uma melhor compreensão do tema, os textos sagrados utilizam alguns sinônimos, tais como: propósito, conselho, projeto, desígnio, etc.

Nos infinitos cosmos tanto físicos quanto espirituais, visíveis como invisíveis, existe em andamento e em plena execução um amplo, profundo, sábio, abrangente, justo e amoroso Plano Eterno de Deus, de dimensões eternas e com objetivos definidos. Entre estes está o de destruir por completo o princípio ou a essência do mal.

Sendo total e amplamente vasto, esse Plano em curso, sob a direção suprema do Deus Todo-Poderoso, trabalha em benefício de todas as suas criações imagináveis e inimagináveis, passadas, presentes e futuras, com toda sua constituição e tudo que nelas há e que ainda possa haver.

Não está fora de cogitação, sendo plenamente possível que, em sua vontade perfeita, propósitos, soberania e sabedoria, Deus objetive, com esse Plano, estabelecer uma civilização (ou várias), um mundo novo (ou vários), um multiverso de impensável, completa e perfeita felicidade, justiça, amor, harmonia, santidade e perfeição.

Tendo sido iniciado em eras remotas eternas, conforme seus eternos propósitos, Deus idealizou, providenciou e estabeleceu os recursos imprescindíveis à execução desse Plano Eterno, o qual, partindo da eternidade passada, atua em todo seu percurso, atravessando as gerações até penetrar na eternidade futura.

Dentro desse Plano e de acordo com os seus ideais, Deus designou dois dos elementos referidos anteriormente: Lúcifer e o Ser Humano, como os agentes para ativar e operacionalizar o mal. 

Isso eles fizeram (e continuam fazendo) por meio de impressões latentes na alma e espírito (pensamentos, sentimentos...), que são os pecados interiores, e infinitas manifestações exteriores, que conhecemos como pecados expressos ou manifestos.


2) Lúcifer - O Agente Executivo da Essência do Mal

Esse ente espiritual, conhecido como Lúcifer, foi idealizado, projetado, criado e dotado de capacidade, inteligência, sagacidade, astúcia, poderes suficientes e designado por Deus, exata e precisamente para essa finalidade: ser o eficaz representante e o agente executivo do Todo-Poderoso, qualificado para absorver e representar o princípio ou a essência do mal moral.

Para reunir essas qualificações, não poderia ser ele um simples anjo, nem arcanjo, nem serafim mas um querubim, um tipo alado pertencente a uma hoste de seres angelicais de ordem superior.

Especificamente em seu caso, um querubim com características especiais em esplendor, inteligência, poder, perfeição, glória e majestade, superiores à sua própria categoria e às demais classes angelicais.

Criado, logicamente, em um nível imediatamente abaixo tão somente ao da Trindade Divina, no entanto, infinitamente inferior a Ela em todos os aspectos e cogitações.

Penso ser razoável assentir que o objetivo de Deus consistiu em concentrar em Lúcifer a totalidade da essência do mal, com toda a sua intensidade, influências, abrangência e efeitos, fornecendo-lhe as condições, poder e qualificação necessárias para materializar o mal.

Dessa forma, o mal moral estaria sintetizado, condensado e potencialmente corporificado em Lúcifer, de forma que este se convertesse em sua legítima e eficaz personificação e promovesse a sua manifestação.

Minha modesta sugestão (sujeita a aperfeiçoamento) é que o mal sempre existiu. De índole ruim e oposto ao bem, coexistia com este, como um princípio inativo na natureza, na infinita eternidade passada; em decorridos e inimagináveis tempos. Algo como uma cosmogonia anterior a desconhecidas, insondáveis e inexploradas eras primitivas eternas.

Imaginações me levam a considerar que, de alguma forma, a necessidade do mal ser ativado e as manifestações exteriores de seu caráter perverso disseminadas através de atos concretos, efetivadas tanto por Lúcifer quanto pelo ser humano, se mostravam como o único meio capaz de viabilizar a sua total e eterna aniquilação.

Com efeito, o princípio ou essência do mal seria despertado e ativado por Lúcifer e, através de ações, disseminado, com o auxílio do ser humano.

Com essa providência, Deus aniquilaria para sempre a maldade em toda a extensão, níveis, espécies e conteúdo de suas criações.

Agora, atenção! Com o objetivo de evitar compreensões equivocadas e pensamentos atribuindo a Deus a autoria do mal, observe a seguinte e importante informação: Deus NÃO criou Satanás! Ele não criou o mal nem é o seu autor! Ele criou Lúcifer! O que é total e completamente é diferente! 

Deus criou Lúcifer íntegro, sem defeito e sem pecado! Ele ainda não era o mal personificado. Era um querubim; um ser angelical perfeito e esplendoroso - Ez 28.12-15.

A verdade é que Lúcifer (o que brilha) se tornou Satanás (adversário) de Deus, somente depois de ter sido possuído pelo pecado, atraindo a si, e absorvendo em sua própria natureza, toda a essência ou princípio do mal.

Mesmo sendo o mentor e supremo comandante executivo do mal, ele não possui liberdade ilimitada para fazer tudo o que deseja, senão apenas aquilo que Deus determina ou permite, tendo, assim, um raio de ação limitado e sujeito às ordens soberanas do Todo-Poderoso.


3) O Ser Humano - O Duplo Agente de Deus

Extremamente frágil, limitado e débil, o ser humano foi criado dessa forma, atendendo um dos objetivos (existe outro) de sua criação por Deus, para que pudesse ser o agente criador, concretizador e disseminador de pensamentos, sentimentos, ações e reações perversas, denominados de pecados, que são reais expressões da essência do mal.

Tais coisas Lúcifer não poderia fazer sozinho, sem a cumplicidade do ser humano. Nem mesmo auxiliado pelos anjos que, juntamente com ele, se rebelaram contra Deus.

Concomitantemente, com as mesmas características de suas fragilidades, foi também talhado para cumprir outra finalidade diametralmente oposta: ser o instrumento de Deus, designado para testemunhar aos seus semelhantes a oportunidade de serem salvos para Glória e louvor do seu Nome.

O ser humano é pois, simultaneamente, instrumento de Deus em dois seguimentos opostos e paralelos:
1) agente do pecado, coadjuvante de Lúcifer (possuído pelo mal);
2) agente do amor, mensageiro de Deus (possuído pelo Espirito Santo).

O gênero humano foi e continua sendo usado por Deus de duas maneiras distintas, que poderíamos chamar de Dualismo Sobrenatural. Uma, como escravo do mal e do pecado; outra, como instrumento do Espírito Santo. Dois modos totalmente diferenciados e conflitantes porém, dentro de um objetivo amplo.

O alvo de ambas as missões do ser humano, embora instrumentalizado de formas diferentes, percorrendo dois caminhos diversos, visou um propósito tríplice: a) destruir definitivamente a essência do mal; b) elevar a raça humana à condição de eterna e perfeita felicidade; c) magnificar a Glória eterna de Deus.

Tanto no papel de agente do mal ou como instrumento do Espírito Santo, em ambas as situações e de maneira diversa, seria usado para cumprir os propósitos de Deus.

Os caminhos do Senhor são magníficos, perfeitos e insondáveis. Felizes são aqueles que confiam plenamente no seu amor, bondade, poder e sabedoria!



Referências bíblicas auxiliares para melhor entender este artigo:

Eternidade - 1Cr 16.36; Ne 9.5; Sl 41.13; 90.2; Dn 2.20; 7.18;
Plano Eterno - At 4.27-28; Ef 1.9-11; 3.3-6, 9-11;
Determinismo - Pv 16.4; 
Novas revelações - Jo 16.12-14; 1Jo 2.27; 
Satanás: rédea curta - 1Re 22.21-23; Jó 1.12; 2.6; Mt 4.10; Lc 8.32;
Ser humano: usado por Deus - 2Sm 12.11-12; 1Re 12.15, 24; Ez 7.21-24; Jo 19.10-11; At 2.23; 4.26-28; Rm 9.17, 20-22;
Ser humano: cúmplice do mal - Gn 3.15; 6.4; Jz 19.22; 1Re 22.21-23; 1Cr 21.1; Lc 22.3; Jo 13.27; At 5.3; Rm 1.24, 26, 28; 2Co 11.14-15; 12.7; 2Ts 2.11; Jo 13.2.

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Obs. 
Breve a segunda parte deste assunto, conteúdo sobre Jesus Cristo, o quarto fator desse intrigante tema.